quarta-feira, 27 de maio de 2009

HOJE NAVEGO EU.

Chegámos a Porto Amélia ao princípio da tarde, era-mos para atracar ao pequeno cais que se encontrava vazio de embarcações, mas não, fundeámos. Era nesta cidade do norte de Moçambique que fazíamos a nossa base, para descansar por breves momentos e para nos reabastecermos de víveres, água potável e combustível.
Tínhamos chegado de mais uma missão, esta como tantas outras, confinava-se a embarcar metade da companhia de Fuzileiros especiais, ficando a outra metade na cidade, revezavam-se nas operações ora iam uns ora iam os outros.
Já no final da tarde, rumo ao navio veio uma embarcação com fuzileiros, mas poucos, o que se estaria a passar? Era coisa de anormal, mas esperámos para ver.
Quando a embarcação encostou à fragata, saltaram logo para bordo todos os seus elementos, mais curioso foi ver dois indígenas com malas de viagem, para onde é que estes fulanos vão? A emigração normalmente era para França e não para aqueles lados, mas tudo bem, quem manda pode e nós por cá só cumprimos o que nos mandam.
Os Fusos eram só uma secção ou seja meia dúzia deles, os emigrantes nunca mais ninguém os viu durante a viagem, recolheram a um camarote improvisado nos serviços administrativos da fragata, cumpridas todas as tarefas, zarpámos para o mar em direcção ao norte.
Durante os dias de navegação por vezes confraternizava-mos com os fusos para sabermos o que se passava, também desconheciam ao que iam diziam eles, os emigrantes esses nem saíam para apanhar ar, a comida era-lhes levada aos seus aposentos e por lá ficaram até ao resto da viagem.
Normalmente o oficial de navegação pedia as cartas ao marujo para traçar as derrotas, mas nesta viagem quem tratou disso foi ele, mais intrigado ficou o dito marujo. Mas como o serviço dele se repartia pela ponte de comando, lá deitou o olho e viu, e confirmou a sua desconfiança.
Cheirava-lhe a coisa menos boa, não era normal ir-mos para aquelas paragens, até que ao final do quarto dia de viagem sem vermos terra durante esse tempo foi chamado ao comandante da força de desembarque que lhe disse: Prepara dois zebros e dois motores dos melhores que houver pois vamos para uma missão arriscada e precisamos de sorte, assim foi, lá cumpriu as suas ordens.
Assim pelas duas da manhã desse dia reunimo-nos na tolda, foi-nos explicada a situação, deixar os dois indígenas na praia, próximo da capital do vizinho e sairmos de lá o mais rapidamente possível pois a fragata não poderia permanecer muito tempo no local devido ás más relações que existiam, por sinal a marinha deles andava por outras paragens que não aquela.
Botes na água e rumo à praia, chegados ao local desembarcou-se os emigrantes e o regresso foi um pouco atribulado até à fragata, ouve quem perdeu o seu cajado, não se sabe se ficou na praia ou se caiu ao mar, mas tudo certo, o que interessava para já era pormo-nos a caminho de casa.
Regressámos a Porto Amélia para descansarmos um pouco pois o trabalho voltava a chamar-nos agora para ser feito em nossa casa e não em casa dos outros.
Esta história, não sei se foi real ou se foi um sonho que tive quando era mais novo.

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