sexta-feira, 3 de julho de 2009

HOJE NAVEGO EU - Durban - III

Carlton Hotel – A Retirada
Acabada a festa era a hora de preparar a retirada.
O pessoal à civil debandou, os outros como estavam fardados a coisa tornava-se mais séria, pois dávamos nas vistas, planeámos a estratégia de permanecer juntos, pois seria mais fácil enfrentar o que viesse acontecer.
Saímos do Carlton Hotel todos juntos e dirigimo-nos para o lado da praia, não tínhamos percorrido cem metros, os carros da polícia à nossa frente, demos meia volta, sempre ordeiramente, mais cem metros e outros carros da polícia, estávamos cercados, vimos uma transversal e entrámos nela, foi o nosso azar, caímos na ratoeira.
Como é sabido, nestas paragens há sempre emigrantes portugueses, (dizia-se à boca cheia que quando os americanos chegaram à Lua, encontraram um madeirense estabelecido com um bazar) alguns vieram em nosso socorro oferecendo-se para tradutores, não aceitámos, pois já eram nossos conhecidos e de ginjeira, tudo faziam para nos prejudicar no relacionamento com os sul-africanos, agradecemos e dispensámo-los.
Passámos a ser directos interlocutores com a polícia sul-africana.
Como estávamos encurralados não podendo sair para lado algum, a polícia tentava agarrar-nos para que entrasse-mos nas carrinhas deles, nós resistimos dizendo que éramos sailors portugueses e só com autorização do comandante do navio é que entraríamos nos carros deles. Assim foi passando o tempo neste jogo, eles a tentarem falar de maneira que percebêssemos, nós a tentar perceber o menos possível.
Passado mais de uma hora, receberam indicação pelo rádio de nos irem por ao navio, lá fomos.
Á chegada ao navio fizemos questão de lhes oferecer umas cervejas, confraternizámos já falando alguma coisa em inglês, aconselharam-nos sempre a andar em grupos, nunca sós, e sempre que quiséssemos vir para o navio que nos dirigíssemos a uma esquadra da policia que eles durante a ronda nos viriam trazer a bordo.
À minha conta não abusei muito, só por duas vezes recorri ao serviço deles, entravamos na esquadra dizíamos que queríamos ir para o ship, diziam-nos para esperar e pouco depois lá íamos para bordo, era sabido que lhes oferecíamos umas laurentinas.
Tinha uns tios a residir em Durban, onde por vezes me deslocava a casa deles, sempre de táxi quando só, dois dias depois da festa no Carlton Hotel o meu tio contou-me que na fábrica onde trabalhava não se falava de outra coisa, que os marinheiros portugueses tinham morto um tipo que na altura era referenciado pela policia como perigoso. Foi também confirmado por um policia numa das vezes que veio a bordo trazer camaradas.
Mais tarde o Carlton Hotel foi demolido, acabando-se a história dos marinheiros, xulos e putas naquela cidade de Durban.

Sem comentários: