sexta-feira, 10 de julho de 2009

HOJE NAVEGO EU - militarismo ?


Militarismo ou não, eis a questão.
Não era para abordar este assunto, mas como o amigo A. Moleiro ex-mar da F336 Fragata Álvares Cabral postou no seu blog no dia 8 de Junho 2009 tal tema, sinto-me na obrigação de o expor.
Um certo dia chegados do mar, atracou a fragata Pacheco Pereira ao pequeno cais de Porto Amélia, era certo que todos iríamos descontrair e apaziguar os nervos para os bares daquela pequena cidade nortenha, mas não, aconteceu o inédito, praças para licenças não havia, qual o problema?
Na gíria, comentava-se que se a guarnição de um navio estando num porto e não houvesse licenças durante três dias o comandante do navio seria chamado à responsabilidade por haver descontentamento a bordo e mais dois dias seria transferido do comando, não sei se era verdade ou não, assuntos que nunca aprofundei pois as minhas preocupações eram de outras naturezas.
Certo é, como disse o Moleiro (N.R.P. Álvares Cabral - F336), nós da N.R.P. Pacheco Pereira - F337 sempre andámos aprumados e bem fardados, quer em terra (quando não à civil, mas sempre atentos) quer no mar. Chegámos a navegar ao lado da N.R.P. Vasco da Gama – F478, N.R.P. Francisco de Almeida – F479 e da N.R.P. Cimitarra – LDG 103 e via-mos a guarnição desses navios, em tronco nu, sem panamá, chinelas no pé, era outra marinha.
Voltando ao assunto, nesse dia de tarde, comentava-se por todo o navio: Hoje não me apetece sair de bordo, sinceramente não sei quem começou com esta ladainha, o certo é chegada a hora de formatura de licenças, ninguém compareceu na formatura.
A bordo havia um senhor cabo artilheiro, talvez o homem mais velho da guarnição a que lhe estava atribuída a execução da escala de serviço das praças, quando o navio não estava a navegar. O senhor cabo tomou a resolução de sair de licença só, ainda não tinha posto os pés em terra quando de repente voa direito às suas costas um desperdício encharcado em óleo vindo de meia nau (junto da peça de fogo) atirado não se sabe por quem, mais tarde suspeitou-se que seria um destemido Mar F.
Comentou-se depois que este acto não dignificava a camaradagem existente a bordo, quem quisesse sair de licença saía, quem não quisesse ficava.
Decorrido cerca de uma hora, houve-se no ETO de bordo, que o Senhor Imediato iria chamar todo o pessoal à sua presença e por isso as licenças estariam suspensas, eu que não estava de serviço nesse dia, chegada a minha vez fui chamado à sua presença a fim de esclarecer qual a razão de não querer sair de licença.
Recordo-me de dizer: Senhor Imediato, não vou de licença por não ter a farda em condições e estar sem dinheiro, não por mais nada, acredite que é verdade.
A resposta do Senhor Imediato foi, vai-te lá embora e tem juizinho, acreditou em mim, e hoje lhe digo, Senhor Imediato, ainda bem que acreditou, pois cometeria um erro condenando-me por um acto que eu estava inocente.
Certo é que estávamos quase no fim da comissão e uma meia dúzia de camaradas foram transferidos por alguns dias para o quartel dos fuzileiros a fim de capinarem o mato de castigo, no final da comissão regressaram a bordo.
Víamos no nosso comandante um grau de militarismo, mas também lhe víamos a preocupação com a guarnição, assisti e vi como elemento das unidades de desembarque que existia todo o cuidado para que tudo funcionasse na perfeição, num dos mais variados casos que me vi à “rasca”, foi levar o ordenança do navio a terra numa praia da Beira já ao entardecer com um zebro e no regresso o estado do mar alterou-se e para o pior começou a anoitecer, o meu proeiro só me dizia quando vinha-mos ao de cima na vaga, vai nesta direcção, o rádio encharcado, sem piar, a nossa sorte foi os projectores do navio iluminarem o nosso caminho. Sei que quando chegamos procurou saber se estávamos bem, por isso agradeço ao então Cap Frag Vicente Almeida D’Eça nosso comandante por nos ter trazido a todos de volta.

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